domingo, 6 de novembro de 2011

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

A grilagem recorde

Meio Ambiente Lúcio Flávio Pinto Lúcio Flávio Pinto é paraense de Santarém; tem 61 anos e é jornalista há 44. Passou por algumas das principais publicações brasileiras, e hoje é editor do Jornal Pessoal, newsletter quinzenal que circula em Belém desde 1987. Já recebeu quatro prêmios Esso e dois Fenaj, além do International Press Freedom Award. Tem 15 livros publicados, a maioria sobre a Amazônia. Escreve a coluna Cartas da Amazônia quinzenalmente, às quartas-feiras. Por Lúcio Flávio Pinto . 03.11.11 - 07h59 A grilagem recorde A maior propriedade rural do mundo deixou de existir legalmente na semana passada. O juiz Hugo Gama Filho, da 9ª vara da justiça federal de Belém, mandou cancelar o registro imobiliário da Fazenda Curuá, que consta dos assentamentos do cartório de Altamira, no Pará. O imóvel foi inscrito nos livros de propriedade como tendo nada menos do que 4,7 milhões de hectares. Seu suposto proprietário podia se considerar dono da 23ª maior unidade federativa do Brasil, com tamanho superior ao dos Estados do Rio de Janeiro, Alagoas, Sergipe e do Distrito Federal. Suas pretensões poderiam ainda exceder essas dimensões. Através de outros imóveis, pretendia alcançar uma área de 7 milhões de hectares, duas vezes e meia o tamanho da Bélgica, país onde vivem mais de 10 milhões de habitantes. Como uma pessoa – física ou jurídica – consegue se apresentar como detentor de uma área dessas proporções e se manter nessa condição por tanto tempo, como aconteceu no caso da Fazenda Curuá? Responder a esta pergunta de maneira satisfatória e eficaz pode contribuir para fortalecer o primado da lei nos “grotões” do país, as distantes e geralmente abandonadas fronteiras nacionais. De forma inversa, manter tal anomalia significa perpetuar o domínio da violência e do respeito às regras da vida coletiva e ao superior interesse público. Em primeiro lugar porque o Estatuto da Terra, editado pelo primeiro governo militar pós-1964, o do marechal Castelo Branco, continua em vigor. Esse código agrário sobreviveu à Constituição de 1988 e se revelou superior em confronto com as regras da Carta Magna. O estatuto, com seu propósito de modernizar o campo brasileiro (mesmo que de forma autoritária, à semelhança do que fez o general MacArthur com o Japão ainda semi-feudal, derrotado pelos americanos na Segunda Guerra Mundial), proíbe a constituição de propriedade rural com área acima de 72 mil hectares (ou 600 vezes o maior módulo rural, o destinado ao reflorestamento, com 120 hectares). A Fazenda Curuá foi registrada com quase 60 vezes o limite legal. Por que o cartorário legalizou a matrícula do imóvel com sua fé pública, ele que é serventuário de justiça, sujeito à polêmica (e questionada pelo Conselho Nacional de Justiça da ministra Eliana Calmon) Corregedoria de Justiça do Estado? A apropriação ilegal de terras públicas, fenômeno a que se dá a qualificação de grilagem, é simples, embora de aparência complexa para o não iniciado nos seus meandros. Ainda mais porque lendas são criadas em torno da artimanha dos espertos e passam a ser apresentadas como verdade. Muita gente acredita que a expressão grilagem se deve à prática dos fraudadores de colocar papéis para envelhecer artificialmente em gavetas com grilos. A verdade é menos engenhosa. A origem é romana e diz respeito ao fato de que a terra usurpada serve para a especulação imobiliária e a formação de latifúndios improdutivos. Tanta terra não cultivada acaba servindo de pasto para grilos. Uma maneira de estigmatizar o roubo de terras públicas de forma popularizada. O espantoso, no caso da Fazenda Curuá, é que o golpe tenha se mantido por tantos anos. A ação de canPor Lúcio Flávio Pinto . 03.11.11 - 07h59 A grilagem recorde A maior propriedade rural do mundo deixou de existir legalmente na semana passada. O juiz Hugo Gama Filho, da 9ª vara da justiça federal de Belém, mandou cancelar o registro imobiliário da Fazenda Curuá, que consta dos assentamentos do cartório de Altamira, no Pará. O imóvel foi inscrito nos livros de propriedade como tendo nada menos do que 4,7 milhões de hectares. Seu suposto proprietário podia se considerar dono da 23ª maior unidade federativa do Brasil, com tamanho superior ao dos Estados do Rio de Janeiro, Alagoas, Sergipe e do Distrito Federal. Suas pretensões poderiam ainda exceder essas dimensões. Através de outros imóveis, pretendia alcançar uma área de 7 milhões de hectares, duas vezes e meia o tamanho da Bélgica, país onde vivem mais de 10 milhões de habitantes. Como uma pessoa – física ou jurídica – consegue se apresentar como detentor de uma área dessas proporções e se manter nessa condição por tanto tempo, como aconteceu no caso da Fazenda Curuá? Responder a esta pergunta de maneira satisfatória e eficaz pode contribuir para fortalecer o primado da lei nos “grotões” do país, as distantes e geralmente abandonadas fronteiras nacionais. De forma inversa, manter tal anomalia significa perpetuar o domínio da violência e do respeito às regras da vida coletiva e ao superior interesse público. Em primeiro lugar porque o Estatuto da Terra, editado pelo primeiro governo militar pós-1964, o do marechal Castelo Branco, continua em vigor. Esse código agrário sobreviveu à Constituição de 1988 e se revelou superior em confronto com as regras da Carta Magna. O estatuto, com seu propósito de modernizar o campo brasileiro (mesmo que de forma autoritária, à semelhança do que fez o general MacArthur com o Japão ainda semi-feudal, derrotado pelos americanos na Segunda Guerra Mundial), proíbe a constituição de propriedade rural com área acima de 72 mil hectares (ou 600 vezes o maior módulo rural, o destinado ao reflorestamento, com 120 hectares). A Fazenda Curuá foi registrada com quase 60 vezes o limite legal. Por que o cartorário legalizou a matrícula do imóvel com sua fé pública, ele que é serventuário de justiça, sujeito à polêmica (e questionada pelo Conselho Nacional de Justiça da ministra Eliana Calmon) Corregedoria de Justiça do Estado? A apropriação ilegal de terras públicas, fenômeno a que se dá a qualificação de grilagem, é simples, embora de aparência complexa para o não iniciado nos seus meandros. Ainda mais porque lendas são criadas em torno da artimanha dos espertos e passam a ser apresentadas como verdade. Muita gente acredita que a expressão grilagem se deve à prática dos fraudadores de colocar papéis para envelhecer artificialmente em gavetas com grilos. A verdade é menos engenhosa. A origem é romana e diz respeito ao fato de que a terra usurpada serve para a especulação imobiliária e a formação de latifúndios improdutivos. Tanta terra não cultivada acaba servindo de pasto para grilos. Uma maneira de estigmatizar o roubo de terras públicas de forma popularizada. O espantoso, no caso da Fazenda Curuá, é que o golpe tenha se mantido por tantos anos. A ação de cancelamento foi proposta em 1996 pelo Instituto de Terras do Pará. Apesar de ter provado que nenhum título de propriedade havia na origem do imóvel, a justiça estadual manteve o registro incólume, decidindo sempre contra o órgão público. Até que o Ministério Público Federal e outros órgãos da União conseguiram desaforar o processo para a justiça federal, que, afinal, reconheceu a ilegalidade da propriedade e cancelou o registro. Essa tramitação acidentada e pedregosa seria evitado se a justiça do Pará tivesse realmente examinado as provas dos autos. Neles está demonstrado que o uso das terras no rico vale do Xingu, onde está sendo construída a hidrelétrica de Belo Monte e agem com sofreguidão madeireiros e fazendeiros, começou em 1924. Moradores da região foram autorizados a explorar seringueiras e castanheiras localizadas em terras públicas, através de concessões com tempo determinado de vigência e para fim específico. Exaurida a atividade extrativa vegetal, a área deixou de ter uso, mas algumas pessoas decidiram inscrevê-la em seu nome. Como os cartórios não se preocupavam com o rigor da iniciativa, até mesmo dívidas em jogo deram causa à transmissão da inexistente propriedade de um detentor para outro, formando cadeias sucessórias. A lesão ao patrimônio público por causa dessas práticas ilícitas permaneceu latente até que uma das maiores empreiteiras do país colocou os olhos nesse mundo de águas, florestas, solos e animais. A C. R. Almeida, criada no Paraná por um polêmico engenheiro, Cecílio do Rego Almeida, que nasceu no próprio Pará, comprou uma firma de Altamira por preço vil (sem sequer pagá-lo por inteiro). No ativo da firma estavam as terras cobiçadas. Não conseguindo regularizá-las pela via legal, por ser impossível, o empreiteiro decidiu se apossar da área à base do fato consumado e passando por cima de quem se colocasse no seu caminho. Montou uma pequena base no local, contratou seguranças, seduziu os índios vizinhos e fez uso da máquina pública que se amoldou à sua vontade. Os que resistiram à grilagem foram levados às barras dos tribunais, que sempre decidiram em favor do grileiro. Os magistrados da justiça estadual não se sensibilizaram sequer pela publicação do Livro Branco da Grilagem, editado pelo Ministério da Reforma e do Desenvolvimento Agrário, que não deixava dúvida sobre a fraude praticada. Nem pelos resultados das comissões parlamentares de inquérito instauradas em Belém e em Brasília. Ou pelas seguidas manifestações de todas as instâncias do poder público, estadual e federal. Enquanto exerceu sua jurisdição sobre o caso, a justiça do Pará ficou ao lado do grileiro e de seus herdeiros, quando ele morreu, em 2008. Foi preciso que o processo chegasse à justiça federal para, finalmente, 15 anos depois da propositura da ação pelo Iterpa, secundado por outros agentes públicos, a situação se invertesse. Não é ainda uma decisão definitiva. Os herdeiros da C. R. Almeida deverão recorrer. Mas já sem o registro cartorial que lhes permitia manipular terras como se fossem os donos do 22º maior Estado brasileiro. Quem sabe, a partir de agora, a intensa grilagem, um dos males que assola a Amazônia, não possa refluir? celamento foi proposta em 1996 pelo Instituto de Terras do Pará. Apesar de ter provado que nenhum título de propriedade havia na origem do imóvel, a justiça estadual manteve o registro incólume, decidindo sempre contra o órgão público. Até que o Ministério Público Federal e outros órgãos da União conseguiram desaforar o processo para a justiça federal, que, afinal, reconheceu a ilegalidade da propriedade e cancelou o registro. Essa tramitação acidentada e pedregosa seria evitado se a justiça do Pará tivesse realmente examinado as provas dos autos. Neles está demonstrado que o uso das terras no rico vale do Xingu, onde está sendo construída a hidrelétrica de Belo Monte e agem com sofreguidão madeireiros e fazendeiros, começou em 1924. Moradores da região foram autorizados a explorar seringueiras e castanheiras localizadas em terras públicas, através de concessões com tempo determinado de vigência e para fim específico. Exaurida a atividade extrativa vegetal, a área deixou de ter uso, mas algumas pessoas decidiram inscrevê-la em seu nome. Como os cartórios não se preocupavam com o rigor da iniciativa, até mesmo dívidas em jogo deram causa à transmissão da inexistente propriedade de um detentor para outro, formando cadeias sucessórias. A lesão ao patrimônio público por causa dessas práticas ilícitas permaneceu latente até que uma das maiores empreiteiras do país colocou os olhos nesse mundo de águas, florestas, solos e animais. A C. R. Almeida, criada no Paraná por um polêmico engenheiro, Cecílio do Rego Almeida, que nasceu no próprio Pará, comprou uma firma de Altamira por preço vil (sem sequer pagá-lo por inteiro). No ativo da firma estavam as terras cobiçadas. Não conseguindo regularizá-las pela via legal, por ser impossível, o empreiteiro decidiu se apossar da área à base do fato consumado e passando por cima de quem se colocasse no seu caminho. Montou uma pequena base no local, contratou seguranças, seduziu os índios vizinhos e fez uso da máquina pública que se amoldou à sua vontade. Os que resistiram à grilagem foram levados às barras dos tribunais, que sempre decidiram em favor do grileiro. Os magistrados da justiça estadual não se sensibilizaram sequer pela publicação do Livro Branco da Grilagem, editado pelo Ministério da Reforma e do Desenvolvimento Agrário, que não deixava dúvida sobre a fraude praticada. Nem pelos resultados das comissões parlamentares de inquérito instauradas em Belém e em Brasília. Ou pelas seguidas manifestações de todas as instâncias do poder público, estadual e federal. Enquanto exerceu sua jurisdição sobre o caso, a justiça do Pará ficou ao lado do grileiro e de seus herdeiros, quando ele morreu, em 2008. Foi preciso que o processo chegasse à justiça federal para, finalmente, 15 anos depois da propositura da ação pelo Iterpa, secundado por outros agentes públicos, a situação se invertesse. Não é ainda uma decisão definitiva. Os herdeiros da C. R. Almeida deverão recorrer. Mas já sem o registro cartorial que lhes permitia manipular terras como se fossem os donos do 22º maior Estado brasileiro. Quem sabe, a partir de agora, a intensa grilagem, um dos males que assola a Amazônia, não possa refluir?

domingo, 30 de outubro de 2011

SUSTENTABILIDADE - MEIO AMBIENTE - SANEAMENTO e AGENDA POSITIVA

No próximo dia 07/11, acontece o 1º SEMINÁRIO DE SANEAMENTO BÁSICO na FIESP com as presenças do Ministro Mário Negromonte, do Ministério das Cidades, do Secretário Est. de Saneamento e Recursos Hídricos, Senadora Lúcia Vânia - Presidente da Comissão de Serviços de Infraestrutura do Senado Federal, Leodegar da Cunha Tiscoski - Secretário Nacional de Saneamento do Minst. das Cidades, Fernando Xavier - Presidente do Conselho Superior de Infraestrutura da FIESP, Carlos Cavalcanti - Diretor Titular do Departamento de Infraestrutura da FIESP e Dilma Pena - Presidente da Sabesp anfitrionados por Paulo Skaf, Presidente da FIESP, que vem promovendo vários Seminários, debates e Painéis setoriais dando a contribuição dos setor produtivo aos Governos Federal e Estadual com subsídios importantes para as politicas de desenvolvimento destes setores. Saneamento é um dos pilares da base social que entre outros fatores é preponderante para a saúde pública. Se liguem, fiquem atentos participando e dando sua contribuição a partir de sua comunidade, Bairro, Município o Meio Ambiente agradece e os benefícios serão para todos agora e no futuro.


sábado, 15 de outubro de 2011

A fome dos Silva é a de todos nós

Peço licença ao Clovis Host Linder, para transcrever
o que ele reproduziu, pois é muito pertinente e
não perdeu a contemporaneidade.

(As eleições já se foram e mostrou o quanto o povo brasileiro que traz no peito o respeito e a solidariedade aos que tem fome e sede de serem tratados com dignidade, fome e sede de cidadania, fome e sede de saúde, segurança e educação de qualidade, direito inalienável preconizado na nossa Constituição que vira e mexe é aviltada por nossos políticos inescrupulosos (salvo as raras exceções) e que tem representatividade de seriedade e moralidade na pessoa de Marina Silva. As falas de Caetano e Rita, não são mais dignas de lembranças, mas os que têem fome continuam aí a clamar por suprimentos de saber, cultura, saúde, educação e segurança, além do direito de viverem num mundo SUSTENTÁVEL, em condições Socioambientais e econômicas com isonomia de igualdade e direitos para todos, demonstrou nas urnas votando na seriedade de Marina Silva. (nota de Daniel Martins- http://sustentabilidadebdgroup.blogspot.com)


A fome dos Silva é a de todos nós











Marina Silva quando foi eleita senadora pelo Acre, em 1994.

Reproduzo abaixo um texto maravilhoso, que recebi do Antonio Carlos Ribeiro. “A Fome de Marina” foi escrito pelo professor José Ribamar Bessa Freire. Seu principal mérito não está na defesa da candidata Marina Silva, mas na defesa dos Silva e de seu direito a participar dos destinos desta nação. A biografia/trajetória de Marina Silva é a trajetória de milhões de brasileiros e brasileiras. O mínimo que tais heróis merecem é o respeito de quem não tem o peito de viver e de lutar do mesmo jeito. As “fomes” de Marina são também as mesmas de milhões de concidadãos. São fomes legítimas e que, antes de mais nada, merecem a nossa mais profunda admiração.
Vamos ao texto:

Há pouco, Caetano Veloso descartou do seu horizonte eleitoral o presidente Lula da Silva, justificando: “Lula é analfabeto”. Por isso, o cantor baiano aderiu à candidatura da senadora Marina Silva, que tem diploma universitário. Agora, vem a roqueira Rita Lee dizendo que nem assim vota em Marina para presidente, “porque ela tem cara de quem está com fome”.

Os Silva não têm saída: se correr o Caetano pega, se ficar a Rita come.

Tais declarações são espantosas, porque foram feitas não por pistoleiros truculentos, mas por dois artistas refinados, sensíveis e contestadores, cujas músicas nos embalam e nos ajudam a compreender a aventura da existência humana.

Num país dominado durante cinco séculos por bacharéis cevados, roliços e enxudiosos, eles naturalizaram o canudo de papel e a banha como requisitos indispensáveis ao exercício de governar, para o qual os Silva, por serem iletrados e subnutridos, estariam despreparados.

Caetano Veloso e Rita Lee foram levianos, deselegantes e preconceituosos. Ofenderam o povo brasileiro, que abriga, afinal, uma multidão de silvas famélicos e desescolarizados.

De um lado, reforçam a idéia burra e cartorial de que o saber só existe se for sacramentado pela escola e que tal saber é condição sine qua non para o exercício do poder. De outro, pecam querendo nos fazer acreditar que quem está com fome carece de qualidades para o exercício da representação política.

A rainha do rock, debochada, irreverente e crítica, a quem todos admiramos, dessa vez pisou na bola. Feio.”Venenosa! Êh êh êh êh êh!/ Erva venenosa, êh êh êh êh êh!/ É pior do que cobra cascavel/ O seu veneno é cruel.../ Deus do céu!/ Como ela é maldosa!”.

Nenhum dos dois - nem Caetano, nem Rita - têm tutano para entender esse Brasil profundo que os silvas representam.

A senadora Marina da Silva tem mesmo cara de quem está com fome? Ou se trata de um preconceito da roqueira, que só vê desnutrição ali onde nós vemos uma beleza frágil e sofrida de Frida Kahlo, com seu cabelo amarrado em um coque, seus vestidos longos e seu inevitável xale? Talvez Rita Lee tenha razão em ver fome na cara de Marina, mas se trata de uma fome plural, cuja geografia precisa ser delineada. Se for fome, é fome de quê?

O mapa da fome – A primeira fome de Marina é, efetivamente, fome de comida, fome que roeu sua infância de menina seringueira, quando comeu a macaxeira que o capiroto ralou. Traz em seu rosto as marcas da pobreza, de uma fome crônica que nasceu com ela na colocação de Breu Velho, dentro do Seringal Bagaço, no Acre.

Órfã da mãe ainda menina, acordava de madrugada, andava quilômetros para cortar seringa, fazia roça, remava, carregava água, pescava e até caçava. Três de seus irmãos não aguentaram e acabaram aumentando o alto índice de mortalidade infantil.

Com seus 53 quilos atuais, a segunda fome de Marina é dos alimentos que, mesmo agora, com salário de senadora, não pode usufruir: carne vermelha, frutos do mar, lactose, condimentos e uma longa lista de uma rigorosa dieta prescrita pelos médicos, em razão de doenças contraídas quando cortava seringa no meio da floresta. Aos seis anos, ela teve o sangue contaminado por mercúrio. Contraiu cinco malárias, três hepatites e uma leishmaniose.

A fome de conhecimentos é a terceira fome de Marina. Não havia escolas no seringal. Ela adquiriu os saberes da floresta através da experiência e do mundo mágico da oralidade. Quando contraiu hepatite, aos 16 anos, foi para a cidade em busca de tratamento médico e aí mitigou o apetite por novos saberes nas aulas do Mobral e no curso de Educação Integrada, onde aprendeu a ler e escrever.

Fez os supletivos de 1º e 2º graus e depois o vestibular para o Curso de História da Universidade Federal do Acre, trabalhando como empregada doméstica, lavando roupa, cozinhando, faxinando.

Fome e sede de justiça: essa é sua quarta fome. Para saciá-la, militou nas Comunidades Eclesiais de Base, na associação de moradores de seu bairro, no movimento estudantil e sindical. Junto com Chico Mendes, fundou a CUT no Acre e depois ajudou a construir o PT.

Exerceu dois mandatos de vereadora em Rio Branco , quando devolveu o dinheiro das mordomias legais, mas escandalosas, forçando os demais vereadores a fazerem o mesmo. Elegeu-se deputada estadual e depois senadora, também por dois mandatos, defendendo os índios, os trabalhadores rurais e os povos da floresta.

Quem viveu da floresta, não quer que a floresta morra. A cidadania ambiental faz parte da sua quinta fome. Ministra do Meio Ambiente, ela criou o Serviço Florestal Brasileiro e o Fundo de Desenvolvimento para gerir as florestas e estimular o manejo florestal.

Combateu, através do IBAMA, as atividades predatórias. Reduziu, em três anos, o desmatamento da Amazônia de 57%, com a apreensão de um milhão de metros cúbicos de madeira, prisão de mais 700 criminosos ambientais, desmonte de mais de 1,5 mil empresas ilegais e inibição de 37 mil propriedades de grilagem.

Tudo vira bosta – Esse é o retrato das fomes de Marina da Silva que – na voz de Rita Lee – a descredencia para o exercício da presidência da República porque, no frigir dos ovos, “o ovo frito, o caviar e o cozido/ a buchada e o cabrito/ o cinzento e o colorido/ a ditadura e o oprimido/ o prometido e não cumprido/ e o programa do partido: tudo vira bosta”.
Lendo a declaração da roqueira, é o caso de devolver-lhe a letra de outra música – ‘Se Manca’ – dizendo a ela: “Nem sou Lacan/ pra te botar no divã/ e ouvir sua merda/ Se manca, neném!/ Gente mala a gente trata com desdém/ Se manca, neném/ Não vem se achando bacana/ você é babaca”.

Rita Lee é babaca? Claro que não, mas certamente cometeu uma babaquice. Numa de suas músicas - 'Você vem' - ela faz autocrítica antecipada, confessando: “Não entendo de política/ Juro que o Brasil não é mais chanchada/ Você vem... e faz piada”. Como ela é mutante, esperamos que faça um gesto grandioso, um pedido de desculpas dirigido ao povo brasileiro, cantando: “Desculpe o auê/ Eu não queria magoar você”.

A mesma bala do preconceito disparada contra Marina atingiu também a ministra Dilma Rousseff, em quem Rita Lee também não vota porque, “ela tem cara de professora de matemática e mete medo”. Ah, Rita Lee conseguiu o milagre de tornar a ministra Dilma menos antipática! Não usaria essa imagem, se tivesse aprendido elevar uma fração a uma potência, em Manaus, com a professora Mercedes Ponce de Leão, tão fofinha, ou com a nega Nathércia Menezes, tão altaneira.

Deixa ver se eu entendi direito: Marina não serve porque tem cara de fome. Dilma, porque mete mais medo que um exército de logaritmos, catetos, hipotenusas, senos e co-senos. Serra, todos nós sabemos, tem cara de vampiro. Sobra quem?

Se for para votar em quem tem cara de quem comeu (e gostou), vamos ressuscitar, então, Paulo Salim Maluf ou Collor de Mello, que exalam saúde por todos os dentes. Ou o Sarney, untuoso, com sua cara de ratazana bigoduda. Por que não chamar o José Roberto Arruda, dono de um apetite voraz e de cuecões multi-bolsos? Como diriam os franceses, “il péte de santé”.

O banqueiro Daniel Dantas, bem escanhoado e já desalgemado, tem cara de quem se alimenta bem. Essa é a elite bem nutrida do Brasil...

Rita Lee não se enganou: Marina tem a cara de fome do Brasil, mas isso não é motivo para deixar de votar nela, porque essa é também a cara da resistência, da luta da inteligência contra a brutalidade, do milagre da sobrevivência, o que lhe dá autoridade e a credencia para o exercício de liderança em nosso país.

Marina Silva, a cara da fome? Esse é um argumento convincente para votar nela. Se eu tinha alguma dúvida, Rita Lee me convenceu definitivamente.

Por José Ribamar Bessa Freire (Professor, coordena o Programa de Estudos dos Povos Indígenas (UERJ) e pesquisa no Programa de Pós-Graduação em Memória Social (UNIRIO)

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

MARINA SILVA: O SONHO DE UM PLANETA HABITÁVEL NO FUTURO

com desenvolvimento e crescimento sustentáveis e responsável.








Marina Silva discursa durante o lançamento do Plano Amazônia Sustentável, em 8 de maio de 2008





Marina Silva anunciando criação do Instituto Chico Mendes.



Maria Osmarina Marina Silva Vaz de Lima – Nascimento: (Rio Branco, 8 de fevereiro de 1958) é uma ambientalista, historiadora, pedagoga e política brasileira. Foi senadora pelo estado do Acre durante 16 anos. Atualmente, está sem partido.
Foi Ministra do Meio Ambiente no Governo Lula do seu início (2003) até 13 de maio de 2008. Também foi candidata à Presidência da República em 2010 pelo Partido Verde (PV), obtendo a terceira colocação entre nove candidatos, com 19,33% da porcentagem total - expressivos 19.636.359 votos válidos em todo o território nacional. ( ela humildemente nega que os votos foram seus mas o PV, não tinha cacife para gerar estes milhões de votos, não fossem a credibilidade, a coerência e força moral de Marina Silva, em defesa de uma postura pró-vida de nossa mãe terra, com seu coração, útero e pulmão Ambiental dentro de nosso território nacional e continente Sul americano do qual somos mais da metade.) O eleitor consciente e responsável, viu em Marina, a luz da salvação que com certeza iria se expandir interna e externamente multiplicando-se em ações positivas de governantes, políticos e empresários sérios que poderiam tornar possível o Desenvolvimento com sustentabilidade e crescimento.
Candidatura à Presidência
Em 2007, um movimento apartidário de cidadãos, denominado "Movimento Marina Silva Presidente", iniciou a defesa pública de sua candidatura à presidência da República. A repercussão internacional deste movimento fez com que o Partido Verde Europeu influenciasse o Partido Verde do Brasil a convidá-la para afiliar-se em seus quadros. Assim, desde agosto de 2009, Marina foi cogitada a ser candidata à presidência da República pelo Partido Verde (PV).
Marina Silva em campanha, em 2010.



Em 11 de junho de 2010, anunciou oficialmente sua candidatura à Presidência da República, em uma convenção do Partido Verde na qual afirmou pretender ser a primeira mulher, negra e de origem pobre a governar o Brasil.
No início de setembro, segundo pesquisa realizada pelo Instituto Datafolha, a candidata contava com 10% das intenções de voto, contra 50% de Dilma Rousseff e 28% de José Serra, número inferior aos votos nulos e brancos, que à época somavam 11%.
Um dia antes do pleito, o instituto previa 16% do total de votos favoráveis à Marina, uma variação de 6% em menos de um mês. De acordo com o Ibope, em pesquisa do início do mês de setembro, Marina Silva teria 8% dos votos totais, contra 51% de favoráveis à Dilma Rousseff e 27% favoráveis à José Serra. Na pesquisa da véspera das eleições, o mesmo instituto previa para Marina 16% do total de votos, uma evolução de 8% em um período de um mês. O crescimento de Marina Silva no primeiro turno das Eleições brasileiras de 2010 foi denominado pela imprensa como "onda verde".
Ao final do primeiro turno das Eleições Presidenciais de 2010, em 3 de outubro, Marina Silva obteve 19.636.359 votos, o que correspondeu a 19,33% dos votos válidos, ocupando assim, o terceiro lugar na disputa que seguiu para o segundo turno entre Dilma Rousseff e José Serra. O resultado foi maior do que previam as últimas pesquisas de intenção de votos. Os institutos Data folha e Ibope, por exemplo, calculavam 17% dos votos válidos para Marina e chegavam a prenunciar a vitória de Dilma ainda no primeiro turno.
Marina Silva obteve vitória sobre os outros candidatos em algumas capitais, como Brasília (41% dos votos válidos), Belo Horizonte (39% dos votos válidos) e Vitória (37% dos votos válidos). Ocupou a segunda colocação em estados como Rio de Janeiro (31% dos votos válidos), Amapá (29% dos votos válidos), Amazonas (25% dos votos válidos) e Pernambuco (20% dos votos válidos).
Marina se tornou a candidata mais votada da história na legenda, tornando-se destaque internacional em aliados do PV pelo mundo, principalmente na América do Sul e Europa, onde o partido vem ganhando força na última década. Marina foi lembrada pela Federação dos Partidos Verdes das Américas (FPVA) pela força que conquistou, segundo o copresidente da FPVA, o mexicano Leonardo Álvarez, ela se tornou um ícone da legenda, tornando-se uma referência juntamente com Antanas Mockus, da Colômbia, que transformou o PV na segunda força eleitoral daquele país.




Marina na cidade de Rio Branco, no dia das eleições.



Em relação ao resultado final das eleições, Marina usou de humildade e parabenizou a candidata eleita pela maioria, “Parabenizo a ministra Dilma por ter sido eleita presidente, e a primeira mulher presidente do Brasil”, disse. A senadora desejou “boa sorte” a Dilma e afirmou que a nova presidente deve ter no cargo “a simplicidade dos pombos e a sagacidade das serpentes”. Marina que se declarou "independente" em relação ao segundo turno, obteve sua neutralidade e não revelou o voto. Ainda pelo Twitter, Marina reforçou a parabenização dizendo: “a ministra Dilma era a candidata de uma parte dos brasileiros. A partir de agora, é a presidente eleita de todos nós nos próximos quatro anos.


Marina e Dilma



Saída do Partido Verde
Em 29 de junho de 2011, o jornal Correio do Brasil publicou uma nota informando que Silva estava prestes a se desfiliar do Partido Verde (PV). Segundo a reportagem, Marina autorizou seus aliados a buscarem abrigo temporário em outras legendas, enquanto a própria ex-candidata à presidência recebeu convites e declinou dos mesmos.
"Por egocentrismo e não cumprimento de acordos firmados por parte de alguns dirigentes, o PV, perdeu a grande oportunidade de se consolidar como partido de luta e representação dos brasileiros alinhados com a Qualidade de Vida e responsabilidade Socioambiental, com o futuro de nosso meio ambiente sem prejuízo do crescimento e desenvolvimento que deve ser Sustentável e Responsável. Nossos filhos, netos e gerações futuras, dependerão diretamente do que fizermos ou não agora, para deixar como legado a eles." (nota do blog)

Em 7 de julho de 2011, no evento "Encontro por uma nova política", realizado na Zona Oeste de São Paulo, anunciou oficialmente sua saída do Partido Verde (PV). "Manter a coerência e seguir em frente, é o sentido de nosso gesto." disse Marina. Ela ressaltou também que a saída do partido não tem motivação eleitoral. "Eu não serei refém da Cadeira Cativa de Candidata".

Não é hora de ser pragmático, é hora de ser sonhático e de agir pelos nossos sonhos.
— No discurso de desfiliação do PV no Cine-Clube Socioambiental Crisantempo - Vila Madalena.
SOU MARINEIRO COM MUITO ORGULHO, por poder ajudar a construir um Brasil maior e melhor!

Eu- Daniel Martins- e Marina Silva, SONHÁTICOS mas trabalhando para torná-lo realidade.

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

“SIRKIS e o Efeito MARINA”

 NOVO LIVRO PARA VIRAR DE CABECEIRA.

















                                                                             Sirkis autografando                                                                             Marina e Daniel Martins


Amigos do Movimento MARINA SILVA, e demais simpatizantes:
Não poderia ter sido diferente a noite de autógrafos de Alfredo Sirkis na última Segunda-feira, 03/10 na Livraria Cultura do Shopping Villa Lobos em São Paulo, com a presença maciça de público e sucesso de vendas!


Jovens que querem um país com mudanças profundas, que venha a ter UMA NOVA POLÍTICA e uma NOVA DEMOCRACIA REPRESENTATIVA, também marcaram presença, Também vários representantes de partidos e políticos como Ricardo Young, Soninha, Fábio Feldmann, e (o homem que teve a coragem de bater de frente com a cúpula (es) inteligente do PV), o J Garcia estiveram presentes para prestigiar e prestar suas homenagens ao autor e a Personagem inspiradora e protagonista do Livro: Marina Silva.
O Programa Amaury Junior, fez uma cobertura completa que devera ir ao ar esta semana, à meia noite, na Rede TV.
Nota: Alguns políticos que saíram do PV para acompanhar Marina, se filiaram ao PPS, muito provavelmente para aproveitar a janela de transferência e num segundo momento fazerem parte do Partido a ser criado por Marina Silva.
Seja um elemento multiplicador das idéias e ideal desta, mulher guerreira, transparente, coerente e acima de tudo compromissada com o Desenvolvimento Sustentável e Social desta nação composta por todos nós, não apenas de alguns abastados e irresponsáveis políticos e gananciosos empresários.
 Junte-se a nós entre no site do MovimentoMarinaSilva - www.movmarina.com.br e inscreva-se como apoiador e formador de opinião.
Um forte abraço deste que é um SONHÁTICO e batalhador por um Planeta melhor a partir de um Brasil melhor e maior para esta e futuras gerações.
Não Permita a destruição do PULMÃO DO MUNDO, defenda o Código Florestal original da equipe da ex Ministra e Senadora Marina Silva. Ligue, mande e-mail, comunique-se com seu Deputado Federal e Senador de sua região e faça seu protesto, fazendo valer sua vontade de continuar vivendo, bem como de seus descendentes num Brasil e mundo melhor abrigado pela mãe NATUREZA.
Daniel Martins
smdanma@gmail.com
http://sustentabilidadebdgroup.bloggspot.com
www.amway.com.br/danielbdgroup.meusite

MARINA NA FOLHA: POLITICA 2.0

Folha SP 09/09/2011
MARINA SILVA

Política 2.0


Nem o clima de deserto que castigou Brasília no Sete de Setembro intimidou os cerca de 25 mil manifestantes da Marcha contra a Corrupção, em pleno centro do poder.
A despeito do calor, a maioria foi de preto, para expressar seu luto diante da corrupção e da impunidade.
Gente muito jovem, em grande parte, foi dizer aos Poderes da República que não aceita a complacência e o corporativismo com que corruptos costumam ser tratados. É gente consciente, cidadã, que com razão considera aberrante o desfecho do caso da deputada filmada recebendo dinheiro sujo e absolvida pela Câmara, em votação secreta, acobertada do público.
Quem foi às ruas também não se conforma com o pragmatismo raso, que usa a necessidade de governabilidade como álibi eterno para políticos de todos os partidos. O movimento que pôs tanta gente no centro de Brasília não é espontâneo -rótulo enganador que sugere certa ingenuidade.
Houve a iniciativa de quem se dispõe a não aceitar o lugar de mero espectador da política. Pipocou nas redes sociais, foi autoconvocatório. Barrou quem queria entrar com bandeiras de partidos. Pacífico, livre, não atacou o governo, mas disse o que o revolta.
Agora desafia análises apressadas que, usando categorias e modelos mentais insuficientes para entender o presente, partem para rotular e desqualificar. "É de direita", "é moralista", "é apolítico".
Talvez porque não estavam lá, à frente, faturando para seu grupo a sempre forte presença da população na rua, assustadora para quem, no poder ou na periferia dele, está pronto a servi-lo a qualquer preço. Falam como coro grego que vê sua função de intermediário esvair-se, pois a própria plateia resolve assumir a ação.
O povo apareceu, como gritaram em Brasília. Que é um movimento político, não há dúvida, mas não nos termos partidários ou do maniqueísmo da disputa entre esquerda/direita, progressista/conservador. No mínimo, as passeatas de Brasília e de outras cidades, mesmo que em menor número, mostraram que é possível se mobilizar em torno de um alinhamento ético e da busca por direitos e cidadania.
Mostram ainda que as novas metodologias e formas de comunicação funcionam e podem crescer em força, capacidade de agregação e na prospecção de novos aplicativos democráticos.
É a borda caminhando para o centro, o seu lugar legítimo.
Isso deve incomodar muito quem pensa que as questões do poder não são da conta do povo. Como alguém postou no Twitter: "O "basta à corrupção" de hoje, fruto de uma espécie de autoconvocação, pode ser o embrião de um histórico movimento de cidadania".
Esperamos que sim, embora não saibamos ainda no que vai dar. Mas certamente vem por aí a política 2.0.
MARINA SILVA escreve às sextas-feiras nesta coluna.